Sobre a verdade e o que é perpétuo

Nada concreto, por mais tangível que seja, permanece. Tudo que é físico, mais cedo ou mais tarde, vira ruína e torna pó.

O que há de mais perpétuo são as mentiras. As abstrações que contamos a nós mesmo, nesse ínterim entre a gênese da linguagem e o agora. Essas histórias, frutos da imaginação e da especulação, são o que, de fato, perduram ao longo de nossa existência e dão forma à quem somos.

Deixar um risco na história.. o querer de todos. Mas só a mentira risca a história, marca e constrói o elo entre o agora e o começo dos tempos falados. A moral, a ética, a espiritualidade partilhada em forma de dogmas.. todas são mentiras, mas tão bem feitas, que chegam a ganhar, em existência, dos punhos de carne e sangue que aqui redigem.

Em breve, muito mais breve do que o tempo em que as rochas da praia perdem sua casca, eu já terei ido e serei esquecido, assim como você que lê. Ninguém ou nada que existe, de fato, risca e marca a história. A história é uma tela de abstração, ela está na fala e na escrita, ela é fluida, pois, muito mais do que a gente, feito de barro e sangue. A gente não risca essa tela. Só as idéias o fazem.

A metafísica, pois, perdura ao que é concreto, que se desfaz com o tempo, descasca.


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