Diário de bordo # 1




Sobre o Ternura ou o nome que vir a ter.. é, somente, um disco experimental, feito inteiramente por nós e pra nós e pra dar nós nas nossas  cabeças."Somente" não vem da modéstia. Acredito que é o melhor disco dos Jönsons, antes mesmo de ser gravado e lançado. Acredito, sobretudo porque sempre o melhor é o que está por vir, e o que vem já vem cheio de devoção e trabalho duro, dedicados pelos quatro.

 A idéia é a de, basicamente, resgatar as técnicas antigas de gravação, usadas nos 60-70 e foi desenvolvida com o entusiasmo e investimento de Ariel, nosso membro mais novo e que tanto revigorou nosso modus operandi.

Nós, yonsons, somos, desgraçadamente, uma banda que se adapta a qualquer situação que tenha surgido até então. O Ternura parece ser um 'disco de apartamento', e é assim porque foi como aconteceu de ser, mesmo. Passamos por situações que nos levou à sorte de montar nosso estúdio-matriz em um apartamento.

O som é pequeno, mas parece  a justa medida para as grandes idéias e as vontades de nós, músicos, que estamos maravilhados com o que pode surgir de um mundo que obriga a gente a se apertar tanto nessas caixas-aparamento.. Mesmo apertados no estudiozinho, ganhamos espaço nas gravações, porque entendemos que o que acontece no mercado fonográfico, da compressão dos sons e de tudo ser gravado tudo muito alto ou regulado-muito-nivelado, é, na verdade, uma violência sonora, algo que obriga o consumidor a entender e aprender que é o 'certo' a ser ouvido. "Os graves tem que ser assim ou assado". Entendemos que nossa função não é a de educar, e sim a de convidar pessoas, agradando-as, independente do que a produção musical convencional esteja convicta do que seja a receita do êxito numérico. A ternura é o oposto da violência, é o convite.

 Estamos convictos do nosso som e é um prazer fazer uma música com a bateria gravada mais en passant ou poder revisar a composição em si, explorando as nuances vocais e o que o acústico, lato sensu, pode nos oferecer. Estamos abertos e com as mentes ativas sobre nosso objeto, o disco.

"Centend?"

A apresentação do disco pode ser melhor feita com "Centend?". São três perspectivas apresentadas, tipo aquelas piadas com o americano, o inglês e o brasileiro. A composição vem de um pot-pourri que, talvez chamássemos hoje de "Cetntend?/Near the Cambodja", de 2009, porque a sonoridade do "cambodja" é legal em inglês. Era algo sobre 'nós sabemos o que aconteceu perto do cambodja", um surfing meio militarizado que remetesse à guerra do Vietnã. Eu tinha recém descoberto os Beach Boys e achei legal. Foi abandonada por esses anos e achei uma boa idéia resgatá-la pro Ternura. Modificada nos dias atuais.

São três perspectivas, 3 propostas de refrão. O enfrentamento do mesmo problema. Três tipos de rock. Tem uma pedra no sapato, o japonês quer informar, caracterizar, explicar, ele é disciplinado. O americano quer tirar, fazer e acontecer (trump?). O brasileiro quer conversar. "A gente entende você, cê entende a gente?". Nós temos uma pedra no nosso sapato, nesse aspecto internacional, proposto pela música, e é o político, até porque a música não morre em piada. É um pouco disso, acredito que se os países tivessem signos, o brasileiro seria regido por mercúrio, ele é o país do lero, da comunicação, do manejo, um geminiano. Eu sou geminiano. Não tenho esse dom e não acredito em signos.

A idéia de "cê entende a gente" veio de Marcelo. Originalmente era um "completamente", pra frisar no 'jeito brasileiro', mas essa modificação trouxe a objetividade que o refrão pedia e a simetria que essa interface disco-ouvinte exige. A gente entende suas expectativas, ok. Não queremos decepcioná-los, mas cê entende a gente? Nossa fome em fazer algo diferente, mas algo feito de um jeito parecido com o que os grandes fizeram antes... é uma aventura, quer correr o risco? (É possível que estejamos dirigindo um carro, sem dar seta, cortemos da extrema direita à esquerda e paremos pra mijar na fachada de uma  filial da universal, em pleno culto. Isso aconteceu com um próximo. A banda tem esses genes).

Os arranjos convidativos, que sustentaram esse convite ao álbum foram, em grande parte, impulsionados por Marco, que deixou claro, com o baixo acústico em arco no fim, em contraposição com o punch grave e preciso do elétrico durante toda a música, que o disco será cheio de experimentos. Estávamos estudando, ouvindo, o "wall sound", que já iniciava com o four freshman e foi desenrolado modernamente por Phil Spector (estudados por nós apud Brian Wilson).

A maior referência pra composição, em si, acredito que venha de "Don't worry baby", do Brian Wilson. Embora aquela seja uma fôrma maravilhosa pra uma letra lindamente piegas, esta é  talvez a forma mais próxima do nosso approach ao wall sound.  Eu, particularmente, acho perspicaz o baixo em arco, tocado continuamente no final, sendo cortado pelos tus-tus-tus do baixo elétrico. Se existe o conceito de centopéia sonora, contruída batendo som-a-som,  baixo a baixo, procure Marco Aurélio, ele vai explicar. Ou não. Ariel trouxe o timbre certo de casio pra música. O timbre sai cortando o compasso lento da música, como se "desse pressa", como um operário brigando com uma funcionária de chão de fábrica em Okinawa.

Estamos prestando atenção na música já com os olhos, como essa gravura aí em cima. Semi-cerrados, atentos a qualquer coisa e dispostos a colocar tudo a perder pra caçar um pombo na varanda do 8º andar.








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